27 abril, 2011

Monotema da paisagem paulista: cana, eucalipto, condomínio fechado e graal

Que o tempo faz a gente mais saudosista, é fato, mas a paisagem do interior de São Paulo tem mudado intensamente para além dos meus anos vividos.

De acordo com Kevin Lynch, os marcos, referenciais, cruzamentos e barreiras pontuam nossos caminhos. O percurso é o mesmo, mas o caminho mudou.

Nasci em pista simples, mas desde que o interior de São Paulo virou pista dupla, não me reconheço mais neste trajeto que anda cada vez mais enfadonho.

Não há mais sítios, encruzilhadas, atalhos de caminho de terra, referenciais que eu julgava eterno: depois daquele cafezal, antes daquela construção antiga, assim que você passar o posto que só tem naquela cidade... Tudo virou cana, ou quanto muito uma plantação de eucalipto que mais parece soldado em quartel. Quando a cidade acaba então... só condomínio fechado!!!  Caso você tenha fome, é o mesmo posto graal com o mesmo salgado e o mesmo banheiro o percurso inteiro. Uma paisagem cada vez mais homogênea e chata.

Há muito tempo aprendi que a riqueza está na diversidade. E apesar do estado de São Paulo ser o mais rico do país,  só vejo sua paisagem empobrecer cada vez mais.

Apesar do monotema: cana, eucalipto, condomínio e graal, o fim do caminho compensa com o bolo de fubá e goiabada que só existe na casa da minha mãe.

por Gisela Leonelli