27 abril, 2011

Monotema da paisagem paulista: cana, eucalipto, condomínio fechado e graal

Que o tempo faz a gente mais saudosista, é fato, mas a paisagem do interior de São Paulo tem mudado intensamente para além dos meus anos vividos.

De acordo com Kevin Lynch, os marcos, referenciais, cruzamentos e barreiras pontuam nossos caminhos. O percurso é o mesmo, mas o caminho mudou.

Nasci em pista simples, mas desde que o interior de São Paulo virou pista dupla, não me reconheço mais neste trajeto que anda cada vez mais enfadonho.

Não há mais sítios, encruzilhadas, atalhos de caminho de terra, referenciais que eu julgava eterno: depois daquele cafezal, antes daquela construção antiga, assim que você passar o posto que só tem naquela cidade... Tudo virou cana, ou quanto muito uma plantação de eucalipto que mais parece soldado em quartel. Quando a cidade acaba então... só condomínio fechado!!!  Caso você tenha fome, é o mesmo posto graal com o mesmo salgado e o mesmo banheiro o percurso inteiro. Uma paisagem cada vez mais homogênea e chata.

Há muito tempo aprendi que a riqueza está na diversidade. E apesar do estado de São Paulo ser o mais rico do país,  só vejo sua paisagem empobrecer cada vez mais.

Apesar do monotema: cana, eucalipto, condomínio e graal, o fim do caminho compensa com o bolo de fubá e goiabada que só existe na casa da minha mãe.

por Gisela Leonelli

10 abril, 2011

A Irregularidade Fundiária de Municípios da Região Metropolitana de Curitiba

A realidade do Município de Rio Branco do Sul na Região Metropolitana de Curitiba é um dos exemplos marcantes da problemática fundiária. Dos 74 loteamentos existentes no município, sem anunciar os loteamentos clandestinos, apenas um é aprovado em nível municipal e estadual, devido às questões ambientais. Um município praticamente irregular, essa é a relidade de muitos municípios na região e no país.


Fotos: Tomás Moreira

por Tomás Moreira

04 abril, 2011


Pobreza, constrangimento urbano e a vergonha alheia

Hoje acordei feliz da vida para uma segunda-feira repleta de atividades, mas com boas previsões na semana. Cantarolava indo para PUC quando, mais uma vez, a mesma cena de constrangimento se repetiu.
Era uma manhã iluminada, até que com raios de sol para os padrões curitibanos, e com pouco trânsito, já passava das 9:00 horas. Eu parei no farol da Av. das Torres, quando eu vejo dois homens proseando e caminhando pela calçada, normalmente. Estavam vestidos com simplicidade, tinham a pele marcada pelo sol e trocavam uma conversa matinal no ritmo lento de seus passos. Um parecia ter uns quarenta e poucos anos e o outro já ter passado dos cinqüenta.

De repente, o barulho de uma freada brusca, um carro de polícia estaciona rapidamente e saltam dois fardados com arma em punho. Na hora, os dois homens colocam suas mãos pra cima, tentando entender o que acontecia, mas respeitando a “autoridade”.  Obviamente foram vistoriados da forma mais agressiva e desrespeitosa.

Fiz questão de parar o carro e ver até onde aquilo ia dar. Em nada, óbvio. Apenas no imenso constrangimento. Qual o motivo de serem abordados? “Eram suspeitos”. Foram vistoriados porque eram pobres, simples assim.

Os guardas se foram e os dois voltaram a caminhar com os rostos afundados no chão, querendo desaparecer na paisagem.

Minha manhã foi inundada por uma vergonha imensa por pagar impostos para ter este tipo de policiamento e mais uma vez passar por este constrangimento urbano: do pobre ser sempre suspeito. Suspeito de nem saber do quê, nem eles e nem os policiais. Agora, me digam: quem roubou a manhã de quem?

por Gisela Leonelli