04 abril, 2011


Pobreza, constrangimento urbano e a vergonha alheia

Hoje acordei feliz da vida para uma segunda-feira repleta de atividades, mas com boas previsões na semana. Cantarolava indo para PUC quando, mais uma vez, a mesma cena de constrangimento se repetiu.
Era uma manhã iluminada, até que com raios de sol para os padrões curitibanos, e com pouco trânsito, já passava das 9:00 horas. Eu parei no farol da Av. das Torres, quando eu vejo dois homens proseando e caminhando pela calçada, normalmente. Estavam vestidos com simplicidade, tinham a pele marcada pelo sol e trocavam uma conversa matinal no ritmo lento de seus passos. Um parecia ter uns quarenta e poucos anos e o outro já ter passado dos cinqüenta.

De repente, o barulho de uma freada brusca, um carro de polícia estaciona rapidamente e saltam dois fardados com arma em punho. Na hora, os dois homens colocam suas mãos pra cima, tentando entender o que acontecia, mas respeitando a “autoridade”.  Obviamente foram vistoriados da forma mais agressiva e desrespeitosa.

Fiz questão de parar o carro e ver até onde aquilo ia dar. Em nada, óbvio. Apenas no imenso constrangimento. Qual o motivo de serem abordados? “Eram suspeitos”. Foram vistoriados porque eram pobres, simples assim.

Os guardas se foram e os dois voltaram a caminhar com os rostos afundados no chão, querendo desaparecer na paisagem.

Minha manhã foi inundada por uma vergonha imensa por pagar impostos para ter este tipo de policiamento e mais uma vez passar por este constrangimento urbano: do pobre ser sempre suspeito. Suspeito de nem saber do quê, nem eles e nem os policiais. Agora, me digam: quem roubou a manhã de quem?

por Gisela Leonelli