16 março, 2011

Audiência pública do metrô de Curitiba deixa a desejar


A implementação do metrô de Curitiba é de interesse de todos. A proposta de construção não é de hoje, o tema já esta no ar há mais de um ano. Grande parte das discussões esta baseada numa visão dualista: favor ou contra o metrô em Curitiba. Entretanto, a discussão tem que ser mais aprofundada.


Sua implementação ocorrerá exatamente na linha, já existente, do biarticulado norte-sul, Santa Candida - Capão Raso. É certo que o sistema atual já está saturado e não comporta mais a demanda atual por transporte público. Contudo algumas questões necessitam ser pautadas: sua implementação tem que ser sobre a linha existente do biarticulado, eixo estruturante da malha de transporte público da cidade? O metrô não poderia ser um modal complementar a linha do biarticulado existente, ampliando a capacidade de demanda e diversificando os meios de transporte? Nunca foi apresentada uma alternativa diferente de implementação do metrô, no que diz respeito à localização e tipologia da construção, ou pelo menos uma amostra das vantagens desta linha sobre outras localidades.


A expectativa da construção do metrô é grande e as discussões em torno do tema têm se intensificado. Segundo o governo, a construção do metrô deverá começar dentro de um ano e sua previsão de conclusão é de quatro anos, desde que financiada pelo PAC da Mobilidade.


Uma questão preliminar para se avaliar a viabilidade deste projeto de implementação do metrô é: onde está a maior demanda não atendida pelo transporte público? O investimento em transporte público é prioritário nos eixos onde ele já é existente, ou em outras áreas? A única opção é de metrô subterrâneo ou poderia ser com modelos unicamente de superfície? Antes de se detalhar impactos de um projeto específico, deveria ser justificado o porquê deste projeto, com esta tipologia e nesta localização.


A base de um Estudo de Impacto Ambiental é fornecer estudos de tipologias e localizações diferenciadas para se avaliar o que terá maior viabilidade ambiental, sócio-urbanística e econômica e não defender uma única proposta com tipologia e localização já pré-determinadas.


Mesmo se a melhor alternativa quanto à tipologia e localização for a apresentada na audiência pública, era fundamental mostrar os impactos urbanísticos de maior destaque e que não foram abordados, como: valorização imobiliária do entorno imediato, impacto nos usos lindeiros e sua manutenção ou alteração; vulnerabilidade associada aos processos de ocupação e fixação territorial, bem como as medidas mitigadoras ou compensatórias sobre os impactos urbanísticos.


Esperamos que a audiência de ontem tenha sido um dos fóruns de discussão pública e não apenas uma peça formal de validação de um projeto tão importante para os curitibanos. A questão não é ser a favor ou contra o metrô, mas sim: que metrô, em que local e para quem?

                             por Tomás Moreira e Gisela Leonelli